eu vivo com monstros; eles vivem junto a mim, formando uma barreira, de mãos dadas, como se me protegessem, e seguem-me. ninguém os vê, e eu, também raramente os vejo. pressinto apenas o cheiro a horror e os arrepios - esses são os piores. é como se me invadissem o corpo, e depois me deixassem flutuar, me descolassem do chão e me colocassem junto ao céu, onde as nuvens não existem. eles despertam-me pela manhã, com um toque nos meus dentes, e depois exalto-me. acendo velas, queimo os dedos e deixo-me levar. pergunto-lhes o nome e não me respondem, tiro as meias e depois sou outra. mais leve e pura que nunca, quebro-me. derrubo as minhas esperanças, transformo-me num outro monstro. sou menos potente, e talvez até fique mais frágil. apenas a minha face muda. a minha pele fica vermelha, crescem-me pêlos nos pés e a realidade muda-se. e continuo a não ver os monstros.