Está uma tarde fria. Estou sentada na minha cadeira preta, reluzente. A varanda está aberta e eu estou a olhar para o seu infinito. Tenho uma vista fantástica. Mas há pessoas. Pessoas que me olham como se fosse uma estranha, um ser incompatível. Olham-me como se eu não significasse nada, ou estar ali seria uma prova da minha estupidez. Ouço o What Hurts The Most. Sei que eu não estou assim só porque sim. Sei que foi por causa de hoje, um dia fresco, bonito. Em que tive oportunidade de dizer «Olá.» e receber os quatro beijinhos que ele me estava a dever. Mas god damn, eu fugi. Eu pensava que essa fase já tinha passado. Pensava que já nem me importava pelo que podiam achar de mim. Fail. E depois quando saí estava triste, a minha irmã notou. «Que se passa?» «Nada.» «Vá lá, desabafa comigo.» Eu não queria, não queria mesmo. Mas foi impossível conter as lágrimas. Chorei, e desabafei. «Porque é que eu não sou uma rapariga bonita, sem medo nem vergonha de si, uma rapariga fantástica?». «É por causa dele não é?» «Sim... ele estava lá dentro.» «Mana, tu és linda! E és mesmo, estás cada vez mais bonita, e não estou a mentir!» «Não é o que os outros dizem.» «E se ele for mesmo teu amigo não se vai importar se tu és bonita ou feia mana!» «Mas às vezes, só apetece desistir de tudo. Só apetece desistir dos nossos sonhos, das nossas ambições. E neste momento estou a desistir de mim.»
Passámos a estrada.
«É ele. É ele. Tenho a certeza.»
Eu tento conter as lágrimas, e tento fingir que está tudo bem.
Ele acenou. Retribuí.
Mas não vale a pena sorrir. Se é para sorrirmos um sorriso falso. Se é para fingirmos que está tudo bem é melhor esquecer os sorrisos. Se é para fingir que não temos problemas, não vale a pena. Sorrir não vale a pena. Nada vale.
«E tudo o que queria era um dia ser uma rapariga bonita, magra, adorada, fantástica.»
E sei que nada disso interessa. Nada interessa ser bonita, ou magra. Mas temos de admitir que hoje em dia, todos se preocupam com isso. TODOS. Até eu. E simplesmente preferem ficar-se pelo que ''vêm'' do que conhecer a pessoa a sério.
Tenho inveja das pessoas do meu colégio, convencidas, mas com razão.
gémeo é gémeo.
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