Estava numa mera aula de português. Sim, uma mera porque as aulas são assim. Cansativas, aborrecidas, sem vida.
Bateram à porta.
«Ann, olá, somos do correio da amizade».
«Ahh, distribuiam lá»
Elas começaram a entoar os nomes manuscritos dos envelopes. «Ana Luisa». «Ana Maria». «Carolina». «Carolina». «Inês». «Carlos». «Carolina».
«Sara» - levantei-me, e de cabeça baixa fui buscá-la.
«Irchad». «Helena». «Carolina».
A lista perlongou-se. Perlongou-se com Carolinas, Anas Marias e Anas Luísas.
E eu perguntei a mim mesma, porque é que eu, escrevendo a tanta gente recebi apenas umas 3 simples cartas. E a outra aluna nova, recebera 17. Sim, a diferença é enorme.
E eu aí apercebi-me.
Apercebi-me de que eu não significo nada.
Que eu não valho lá.
Que se criasse um inquérito «Qual das alunas novas preferes? Carolina ou Sara?», a maioria seria a 1ª opção.
Não me concentrei mais na aula, não consegui.
E até tendo um texto de 2 páginas para completar naquela aula, que valeria para a minha avaliação, não ficou como eu esperava.
E que isto não são ciúmes. Não são. São feridas psicológicas que nada nem ninguém poderá curar.
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